Ministério da Saúde não reconheceu terreiros de matriz africana como locais de cura no SUS


Governo Lula reconhece TERREIROS como locais de cura ligado ao SUS
– Trecho de legenda que acompanha vídeo compartilhado no WhatsApp
Falso

Circula nas redes sociais a informação de que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva reconheceu os terreiros de religiões de matriz africana como locais de cura ligado ao Sistema Único de Saúde (SUS). É falso.

Por WhatsApp, leitores da Lupa sugeriram que esse conteúdo fosse analisado. Confira a seguir o trabalho de verificação​:

A publicação que circula nas redes sociais retira de contexto a informação. Uma resolução elaborada pelo Plenário do Conselho Nacional de Saúde (CNS) traz uma série de orientações estratégicas que podem ou não servir de subsídio para o Ministério da Saúde na formulação do Plano Plurianual e para o Plano Nacional de Saúde. Apesar de o texto em um dos pontos orientar o reconhecimento das manifestações da cultura popular dos povos tradicionais de matriz africana como equipamentos promotores de saúde e cura complementares do SUS, isso não indica, na prática, que o Ministério da Saúde autorizou essa mudança.

O Ministério da Saúde, em nota, reforçou que o documento traz orientações para políticas a serem adotadas no SUS. "O Ministério da Saúde trabalha para garantir o cumprimento dos princípios da equidade, integralidade e universalidade no Sistema Único de Saúde (SUS). Dessa forma, o compromisso da atual gestão é assegurar o cuidado e assistência integral a todos os brasileiros, respeitando as especificações da população e das diferentes culturas do país."

A Resolução nº 715, de 20 de julho de 2023, traz 59 orientações estratégicas que podem servir de subsídio para o Ministério da Saúde formular o Plano Plurianual e para o Plano Nacional de Saúde. O texto foi elaborado pelo Plenário do Conselho Nacional de Saúde a partir de uma série de conferências pelo país, que contaram com a participação de cerca de 2 milhões de pessoas.

No item 46, o Plenário orienta o Ministério da Saúde a atualizar a Política Nacional de Saúde Integral para reconhecer as manifestações da cultura popular dos povos tradicionais de matriz africana e as Unidades Territoriais Tradicionais de Matriz Africana (terreiros, terreiras, barracões, casas de religião, etc.) como equipamentos promotores de saúde e cura complementares do SUS.

Segundo o texto, isso se daria "no processo de promoção da saúde e 1ª porta de entrada para os que mais precisavam e de espaço de cura para o desequilíbrio mental, psíquico, social, alimentar e com isso respeitar as complexidades inerentes às culturas e povos tradicionais de matriz africana, na busca da preservação, instrumentos esses previstos na política de saúde pública, combate ao racismo, à violação de direitos, à discriminação religiosa, dentre outras".

É importante mencionar que o Ministério da Saúde não é obrigado a incorporar no PNS todos os pontos da Resolução nº 715/2023. A Lupa explicou, em reportagem anterior publicada sobre o tema, que a Portaria de Consolidação do Ministério da Saúde nº 1/2017 determina que o “Plano de Saúde deverá considerar as diretrizes definidas pelos Conselhos e Conferências de Saúde e que ele deve ser submetido à apreciação e aprovação do Conselho de Saúde respectivo”. Ou seja, as diretrizes presentes na resolução representam um importante referencial para a elaboração do plano, mas a legislação não estabelece que ela seja seguida à regra.

Outro ponto da resolução do Plenário do Conselho Nacional de Saúde também foi transformada em peças desinformativas nas redes. A de que o Ministério da Saúde autorizou a intervenção para mudança de sexo a partir dos 14 anos. A informação foi desmentida pela Lupa.
Checagem similar foi produzida por Reuters e UOL Confere.
Ministério da Saúde não reconheceu terreiros de matriz africana como locais de cura no SUS Ministério da Saúde não reconheceu terreiros de matriz africana como locais de cura no SUS Reviewed by Giro Ibirataia on segunda-feira, agosto 21, 2023 Rating: 5

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